Seremos dois bilhões de pessoas no mundo em 2050, segundo dados da Nações Unidas e do Banco Mundial, e para alimentar tal população será necessário aumentar a produção em 50%. Mas não é possível tratar a questão somente falando de aumento na produtividade. É necessário debater a produção, consumo sustentável e melhorias no acesso ao alimento de qualidade – visando garantir a segurança alimentar da população. Ademais, a urbanização permanece em desenvolvimento, o indivíduo aumenta a renda e suas preferências alimentares se tornam cada vez mais específicas – com maior variedade e valor nutricional na dieta, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Dentro deste cenário, a demanda por alimentos deve aumentar em pelo menos 20% ao longo dos próximos 15 anos, segundo dados do Banco Mundial. O avanço científico e tecnológico tem contribuído de forma positiva para o aumento da capacidade produtiva. A capacidade produtiva na agricultura, por exemplo, cresceu três vezes nos últimos 50 anos – tornando possível que a produção acompanhasse o crescimento populacional.
Contudo, uma combinação de fatores – que muitas vezes são interdependentes – vem trazendo empecilhos significativos para a produção do setor. Fragilidade institucional e conflito, insegurança pública, deslocamentos em larga escala, mudanças climáticas e degradação de recursos naturais – como água e solo – têm causado insegurança alimentar para milhares de pessoas. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que a produtividade agrícola deve cair dois por cento a cada dez anos devido as constantes secas e alterações de temperaturas. O milho e trigo já registraram quedas de produtividade nos EUA, por não suportar temperaturas altas em sua fase reprodutiva. As mudanças climáticas podem então colocar em risco determinadas espécies ou mesmo alterar fronteiras agrícolas.
O Brasil deve superar os EUA como maior produtor de soja na próxima década, segundo o relatório Agricultural Outlook 2017-2026, realizado periodicamente pela FAO e OCDE. Dentro do período analisado, a produção de soja deve continuar expandindo 1.9% ao ano, mas essa taxa está abaixo das mensuradas na última década, de 4.9% ao ano. A América Latina irá liderar o aumento na produção de milho – contribuindo com 28% do aumento total ou 39 milhões de toneladas. A Ásia e Pacífico irão contribuir com 24% ou 33 milhões enquanto a América do Norte contribuirá com 22% ou 31 milhões de toneladas. Em conjunto, estas regiões somam 74% do aumento total.
O relatório ainda afirma que a maior expansão em termos de área produtiva nos últimos dez anos, adicionando respectivamente 10 e 8 milhões de hectares para o terreno produtivo são Argentina e Brasil e esse padrão deve ser mantido para os próximos dez anos. Mesmo que seja esperado que países em desenvolvimento somem mais da metade da exportação de carne até 2026, sua participação declina que forma contínua no período. Mas Brasil e EUA devem aumentar em 44%, contribuindo em até 70% da projeção de exportação de carnes para o período. Já a proporção para frango em 2026 será guiada por crescimento brasileiro, norte americano e da União Europeia enquanto a carne vermelha terá concentração liderada por Brasil e Austrália.
Enquanto a depreciação projetada em médio prazo para as moedas argentinas e brasileiras com relação ao dólar americano irá encorajar a exportação de leite destes países, para que se tornem mais competitivos. Já a exportação de açúcar está projetava para permanecer concentrada, com 48% originando do Brasil onde a produção de cana é dividida entre o fornecimento para a produção de açúcar, o qual 72% é exportado, e etanol para uso doméstico.
Os dados demonstram uma perspectiva positiva em relação ao crescimento produtivo brasileiro. Contudo, o rápido crescimento do setor agrícola ao longo dos últimos 20 anos tem sido baseado no benefício de um grupo específico – de fazendeiros comerciais de larga escala – dificultando a atividade de fazendeiros tradicionais de menor escala e da economia rural, de forma ampla. Reverter esta lógica pode também reverter o fato de que a incidência de pobreza é maior nas áreas rurais do que nas áreas urbanas, tornando o setor agrícola em um estabilizador econômico. Outra preocupação da comunidade internacional tem sido a pegada ambiental do desenvolvimento agrícola, principalmente com relação ao impacto na perda de áreas florestais. A discussão do crescimento agrícola sustentável ainda precisa prosperar e buscar inovações.
Beatriz Amaral
Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais