A primeira eleição colombiana desde o processo de paz

Por Marcelo Micalli e Raquel Rocha

No último domingo, 27 de maio, os colombianos não conseguiram escolher seu presidente, mas definiram os dois candidatos que irão disputar o segundo turno das eleições do país no próximo dia 17 de junho. Os candidatos são de partidos da extrema direita – Iván Duque com 39% dos votos (6.390.849 votos) – e esquerda – Gustavo Petro com 25% dos votos (4.005.607 votos) [1].

Apesar de outros candidatos na disputa, a campanha já havia sido dominada pela disputa polarizada entre Iván Duque – à direita com o partido Centro Democrático, sucessor do ex presidente, hoje senador, Alvaro Uribe que ainda é altamente popular e grande opositor do acordo de paz – e Gustavo Petro – à esquerda, antigo prefeito de Bogotá e membro do grupo armado M-19. O voto reflete a polarização social criada pelo controverso acordo de paz, com os dois candidatos dos extremos sendo àqueles realmente considerados, pois não existem candidatos de centro.

A grande questão é que o acordo de paz de 2016 entre as FARC e o governo pode ter conseguido um Nobel da Paz para o Presidente Juan Manoel Santos, mas a maior parte dos colombianos não ficaram tão satisfeitos com o acordo. Alguns argumentam que favorecem terroristas enquanto outros acreditam que as desigualdades sociais – causas principais da violência – são abordadas somente no papel. Tanto que o acordo de paz que foi aprovado é uma versão revisada, pois o acordo de paz foi recusado em referendo, que teve aumento de impostos na sequência, sentenças mais brandas para os rebeldes e garantia de assentos no congresso causou a queda de aprovação do governo Santos em 14% [2].

A memória do período de conflito é uma variável crucial na tomada de decisão do eleitor, foram mais de 220 mil mortos, 7 milhões de pessoas deslocadas [2] e famílias divididas, fazendo com que os eleitores negassem os partidos tradicionais, o establishment. Duque afirmou que não destruiria o acordo, mas faria modificações – principalmente com relação à imunidade de crimes contra a humanidade concedida às FARC pois acredita que a verdade sobre o que foi feito, deve ser dita. Mas também existe o receio dele ser um instrumento de Uribe, com pouca experiência administrativa e diminuir o acordo para garantir que Uribe possa concorrer novamente.

Existem preocupações também com relação à um alinhamento com a esquerda e possíveis aproximações com o governo Venezuelano com a eleição de Petro, principalmente no âmbito econômico, sendo que Petro já foi um apoiador de Hugo Chávez. Mas vale ressaltar que durante o final de semana foi anunciado a adesão da Colômbia à OTAN (aliança miliar do Tratado do Atlântico Norte), o que aproxima o país das potências do Norte em termos militares e gerou uma resposta ferrenha de Maduro que demonstrou receios do alinhamento político e possíveis intervenções militares na América Latina.

Contudo, pesquisas demonstram que mesmo com as dificuldades do processo de paz e os transbordos da crise venezuelana, os eleitores colombianos estavam mais preocupados com a situação interna do país, em temas como corrupção, saúde e desemprego. Mas também existem questões preocupantes como: questões de gênero, o lugar da religião na política e o papel de um ex-presidente poderoso como Uribe – chamado por Duque de “eterno presidente”.

É possível afirmar que independentemente de quem seja eleito, haverá uma mudança significativa da administração atual tanto no âmbito econômico, social e político, de Santos, um centrista que já cumpriu dois mandatos e com a fama de ter negociado o acordo de paz com as FARC. Duque tem sido apontado como o grande favorito e se opõe ao acordo de paz. Para que tenha chances reais de vitória, Petro terá de convencer os moderados que seu apoio ao acordo e passado de guerrilheiro não comprometerá sua atuação como presidente.

BIBLIOGRAFIA

[1] THE GUARDIAN. Colombia elections: rightwinger and former guerrilla head for presidential runoff. 2018. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2018/may/28/colombia-presidential-elections-ivan-duque-gustavo-petro-runoff Último acesso em: 28/05/2018.

[2] NEW YORK TIMES. In Colombia, Far-Right and Hard-Left Candidates Will Vie for Presidency. 2018. Disponível em: https://www.nytimes.com/2018/05/27/world/americas/colombia-election-ivan-duque-gustavo-petro.html Último acesso em: 28/05/2018.

[3] BBC NEWS. Colombia election: Run-off expected in first vote since Farc deal Disponível em: http://www.bbc.com/news/world-latin-america-44272907 Último acesso em: 28/05/2018.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais