Desestabilização e riscos na Itália de 2018

Em 4 de Março foram realizadas eleições na Itália, depois da dissolução do Parlamento pelo Presidente Sergio Mattarella, para a formação de um novo governo. No entanto, como os três principais partidos – o Partido Cinco Estrelas (Populista), o Partido da Liga do Norte (centro-direita) e a Coalizão de Centro-esquerda – não obtiveram maioria criou-se  um entrave político[1]. Com quase três meses de negociações difíceis, chegou-se a formação de um Governo sob a liderança do Primeiro Ministro Giuseppe Conte que conta com o apoio do Partido Cinco Estrelas e do Partido da Liga do Norte. Porém, apesar da formação do novo Gabinete, o cenário político e econômico ainda é de incertezas e instabilidades[2].

A indicação de Paolo Savona para Ministro das Finanças foi um dos momentos de tensão entre os movimentos pró e contra a União Europeia. O presidente Sergio Mattarella justificou seu veto em razão da  forte oposição de Savona à União Europeia e a intenção de sair da zona do euro.

Após muitas suposições, os líderes Luigi di Maio, do Partido Cinco Estrelas, e Matteo Salvini, do Partido da Liga, concordaram em indicar Paolo Savona para outro posto, mas, para mostrar à Bruxelas que não tinham desistido de suas objeções ao euro, eles o indicaram para o cargo de Ministro da Europa, que não tem grande significado prático.

Entretanto, a escolha de Giovanni Tria para o cargo de Ministro da Economia mantém o viés anti-euro da coalizão. Tria já atacou as políticas econômicas da Alemanha e propôs a redução dos impostos aos consumidores, como prometido pela Liga[3]. Aqueles que aprovam a política econômica defendida por Tria acreditam que haverá um  aumento do crescimento econômico italiano. Já os seus oponentes afirmam que a diminuição de impostos irá sacrificar a receita fiscal em um país que a dívida pública representa 130% do PIB. Para estes críticos, o país não pode se dar o luxo de perder mais receita[4].

A percepção entre os investidores internacionais é que, se implementada a proposta de cortar impostos e aumentar as despesas, o controle das contas públicas ficará ainda mais debilitado e o Governo terá mais dificuldade em implementar um orçamento que não exceda os limites impostos à Itália, como membro da zona do euro. Segundo George Soros[5], isso poderá ampliar ainda mais a crise política, aumentando a possibilidade de realização de novas eleições até o final do ano, ou, mais provavelmente, no início de 2019. Ele ainda acrescenta que o resultado das próximas eleições italianas dependerá da forma com a União Europeia responderá às turbulências no país, podendo ampliar a visão negativa da população frente à União Europeia e, com isso, aumentar o peso eleitoral do Movimento 5 Estrelas e do Partido da Liga.

A Cúpula do Conselho Europeu, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de junho, será  importante para a construção do arranjo entre seus membros e para compreender as posições dos países frente à situação italiana. A Cúpula também indicará como França e Alemanha irão enfrentar os crescentes movimentos populistas que afetam as políticas de austeridade fiscal e fragilizam a zona do euro.

As eleições italianas sem dúvidas conturbaram e desestabilizaram o cenário econômico e político europeu, mas todos ainda aguardam os próximos passos da coalizão populista italiana para verificar  quando serão executadas as medidas mais polêmicas e suas implicações para a economia da Itália e dos países da zona do euro[6]. Os cenários ainda são incertos, mas já indicam que teremos momentos de grande turbulência nos próximos meses.

Notas:

[1] THE GUARDIAN. Italy looks set for fresh elections as it enters third month without government. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2018/may/04/italy-looks-set-for-fresh-elections-as-it-enters-third-month-without-government>. Acesso em: 11 jun. 2018.

[2] THE GUARDIAN. Eu Italy European leaders punish government help. Disponível em: <https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/jun/05/eu-italy-european-leaders-punish-government-help>. Acesso em: 07 jun. 2018.

[3]THE ECONOMIST. Italy at last gets a new government. Disponível em: <https://www.economist.com/europe/2018/06/01/italy-at-last-gets-a-new-government>. Acesso em: 07 jun. 2018.

[4] THE ECONOMIST. Italy at last gets a new government. Disponível em: <https://www.economist.com/europe/2018/06/01/italy-at-last-gets-a-new-government>. Acesso em: 07 jun. 2018.

[5] THE GUARDIAN. Eu Italy European leaders punish government help. Disponível em: <https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/jun/05/eu-italy-european-leaders-punish-government-help>. Acesso em: 07 jun. 2018.

[6] THE NEW YORK TIMES. Italy euro European union. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2018/05/29/world/europe/italy-euro-european-union.html>. Acesso em: 11 jun. 2018.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais