Com as eleições parlamentares e presidenciais turcas marcadas para o próximo domingo, 24 de junho, o país se encontra em um impasse econômico. Tal impasse ocorre dado ao posicionamento do atual presidente Recep Tayyip Erdoğan perante o mecanismo do Banco Central turco, que conteve a desvalorização da moeda nacional. Erdogan será colocado contra diversos oponentes e se nenhum candidato presidencial conquistar maioria, os dois mais votados se encontrarão no segundo turno no dia 8 de Julho.
Financiada por crédito internacional barato e com foco em mercados emergentes, a Turquia cresceu singularmente desde que Erdogan e seu partido assumiram o poder em 2014, o país obteve uma média de 5,3% de crescimento anual, sendo que a expectativa para o ano de 2018 é de 4,4%, bem acima da média mundial. O cenário interno ainda é composto por inflação na casa dos 9%, chegando à casa dos 11% em 2017; o desemprego atinge patamares similares aos da inflação.
O setor externo é um fator mais complicado para Erdogan e seus pares. O país tem um déficit elevado na balança de transações correntes de mais de 5% do PIB, o que faz com que o país dependa de financiamento estrangeiro para sanar este problema. Conjugado à isso, a Lira Turca está perdendo valor de forma consistente, o que implica em uma redução significativa do poder de compra do consumidor. Um colapso da lira turca pode desencadear uma crise econômica e tendo isso em perspectiva o Banco Central da Turquia aumentou a taxa de juros de 13,5% para 16,5% como meio de contenção da depreciação e proporcionar a entrada de capital para o equilíbrio nas contas externas.[1]
Seguindo políticas econômicas prudentes que atraem investimentos, tentam reduzir a inflação, porém possuem um custo razoavelmente elevado que é o aumento de desemprego com uma redução no crescimento do produto. Em meio a isso, Erdogan antecipou as eleições em um ano (será no domingo, 24 de Junho), por resposta a um referendo que ocorreu no ano de 2017 que, transformou a democracia parlamentar turca em uma presidência executiva, concedendo mais poderes aos novos presidentes. O cenário a poucos dias da eleição é de um apoio crescente à Erdogan, beirando os 50%, sendo que se houver segundo turno, mais da metade da população votaria novamente em Erdogan.
Na promessa de que se reeleito, Erdogan buscará influenciar de forma mais direta a política monetária do país, o que pode comprometer a independência do Banco Central turco e ressaltar o pouco controle administrativo presidencial, promovendo a instabilidade no cenário econômico do país. Recentemente, Erdogan protestou contra as taxas de juros e levantou dúvidas sobre a independência do Banco Central.
“Os comentários de Erdogan ainda estão frescos na mente dos investidores e os líderes políticos precisarão diminuir as preocupações de que a política monetária será determinada pelos políticos”, disse Per Hammarlund, estrategista-chefe de mercados emergentes do banco sueco Skandinaviska Enskilda Banken (SEB).[2]
Impulsionada pelo crédito fácil no setor imobiliário, a Turquia cresceu de forma acelerada nos últimos anos. A aparente crença de Erdogan no crédito barato está ligada à convicção de que a Turquia pode crescer sem limites e sem superaquecer e exacerbar as pressões inflacionárias. No entanto, é importante ressaltar que o uso excessivo dos instrumentos de política monetária com viés expansionista é capaz de alavancar não apenas o crescimento econômico, mas também o aumento da inflação, que sem cuidado pode levar o país à uma recessão, afetando o poder de compra do consumidor.
Ao apresentar um cenário onde os setores administrativos da Turquia além de, parecer não se comunicar, não concluem em conjunto as medidas econômicas a serem tomadas. Esse fator revela uma instabilidade doméstica que, impacta diretamente no interesse dos investidores para com o país que corre o risco de colapso e perda de financiamento para se manter funcionando de maneira estável.
Ainda de forma mais incisiva, pode proporcionar um aumento da percepção do risco econômico para os investidores, com maior grau de intervencionismo nas políticas econômicas, o que pode fazer com que a economia esteja menos receptiva à investimentos estrangeiros. Além, disso, com taxas de juros menores e menores investimentos externos, a tendência de desvalorização da Lira seria mais aguda e acentuada, o que poderia prejudicar ainda mais o setor empresarial que possui dívida em moeda estrangeira.
Tendo em vista a base eleitoral de baixa e média renda de Erdogan e a importância da taxa de câmbio para os turcos, o incidente pode levar os eleitores a questionar a competência econômica do presidente, que aparecia como favorito e pode ter sua reeleição prejudicada dado aos recentes acontecimentos.
[1] DARAGAHI, Borzou. Erdogan Is Failing Economics 101. Foreign Policy, 25 de maio de 2018. Disponível em: <https://foreignpolicy.com/2018/05/25/erdogan-is-a-mad-economist-and-turkey-is-his-laboratory/>. Acesso em: 29 de maio de 2018.
[2] PETROFF, Alanna. Turkey’s economy at risk as currency hits record low. CNN, 24 de maio de 2018. Disponível em: <http://money.cnn.com/2018/05/24/news/economy/turkey-economy-lira-erdogan/index.html> Acesso em: 29 de maio de 2018.