Rating e o impacto para as economias latino-americanas

As decisões de política econômica tomadas pelos governantes possuem diferentes repercussões no lado real e no lado monetário da economia. Pelo lado real, podemos pensar no impacto de uma política sobre o produto, o emprego ou a renda de um determinado país. Já para o lado monetário, os impactos de uma política são sobre a taxa de câmbio, a taxa de juros e os resultados das bolsas de valores do país.

No lado real da economia, as decisões de política sofrem com uma defasagem temporal até os resultados serem de fato apresentados em termos práticos. A literatura econômica sugere que os efeitos de uma determinada política econômica demoram algo entre 6 e 9 meses para despontarem no lado real de um país[1].

Já o lado monetário é afetado não apenas pelas diretrizes de políticas econômicas tomadas por um governo, como também por uma série de fatores exógenos ao controle dos governantes de um determinado país. Além disso, é importante ressaltar e salientar que tais fatores afetam de forma imediata na economia, seja por meio das oscilações cambiais, seja por meio da oscilação da bolsa de valores e que, consequentemente, afetam as variáveis do lado real da economia.

Um indicador que interfere diretamente no lado monetário da economia, mais precisamente no “humor” dos mercados financeiros internos é a percepção de agências de classificação de risco sobre a conjuntura atual do país, bem como as suas perspectivas para o futuro. Esse indicador é conhecido como o Rating sobre os títulos da dívida soberana de um país.

De fato, tal indicador demonstra a capacidade de um país ser qualificado como um bom ou mau pagador desta dívida. As agências de classificação[2] possuem metodologias que são minimamente distintas entre si, porém ambas buscam ilustrar a capacidade do país de honrar seus pagamentos em relação aos títulos da dívida. Uma característica importante é que tais agências não possuem um calendário fixo de divulgação e é possível que a perda de credibilidade já esteja precificada pelos agentes de mercado. Abaixo temos os dados das agências para os países no ano de 2017.

Este texto irá tenta mostrar as possíveis consequências de uma alteração nesta nota de rating e como ela repercute de forma prática no mercado financeiro e, consequentemente, seus efeitos potenciais no lado real da economia. A amostra de países para este pequeno estudo é composta por membros que tiveram alguma avaliação no ano de 2017 e que possuem bolsas de valores representativas na América do Sul.  São eles: Argentina, Brasil, Chile e Colômbia. Destes 4 países analisados, o único que possui o grau de investimento (título da dívida pública não é considerado um investimento especulativo) é o Chile.

  Tabela 1 – Países e Datas de Rating

                                                              Fonte: Agências de Rating – Elaboração Própria

 

Na tabela 1 acima são apresentados os dados de rating dos títulos da dívida emitidos em moeda estrangeira realizados por cada uma das agências. De forma geral, a situação para estes títulos no ano de 2017 é boa, pois nenhum dos países acima mencionados sofreram alterações no status de seus títulos. Mesmo o Chile, que pela Standard & Poor’s que sofreu um pequeno rebaixamento na sua nota, ainda continua como o único desta amostra com um grau de investimento.

Com relação aos impactos no mercado financeiro, este estudo estará concentrado em dois indicadores principais. O primeiro deles é o EMBI+ que calcula a diferença do retorno dos preços dos títulos públicos de países emergentes em comparação ao retorno de títulos semelhantes do Tesouro dos Estados Unidos (referência para o mercado de papéis de baixíssimo risco). Quanto maior essa diferença, maior é a percepção de risco para estes investidores neste determinado título. Já o segundo indicador é mais comum que é a própria variação do índice da bolsa de valores principal de cada um dos países da amostra. Este tipo de análise pode ser resumida pelo gráfico 1 apresentado abaixo.

Gráfico 1 – EMBI+ (Prêmio de Risco) e Bolsa de Valores – Variação % da primeira avaliação do rating até Setembro/2017

Fonte: Macrodados Online – Elaboração Própria

 

O gráfico acima apresenta o comportamento do EMBI+ a partir da primeira avaliação do rating em 2017de cada um dos países analisado e a sua relação com a variação do índice da bolsa de valores[3]. Como durante todo o período desta análise não existiu um rebaixamento severo das notas (de grau de investimento para grau especulativo, por exemplo), é possível afirmar que as notícias das agências forneceram uma dose de otimismo para os investidores dispostos a realizarem aportes nestes países.

Os dados ilustrados pelo gráfico acima apresentam uma queda no prêmio de risco (EMBI+) e o consequente aumento do índice da Bolsa de Valores destes países. Isso pode ocorrer pelos investidores acreditarem que os fundamentos econômicos do país estão melhorando quando o rating é estabelecido. Se o rating for positivo, como foi o caso (aqui positivo não significa necessariamente grau de investimento, mas a manutenção de um rating, sem o downgrade do título), é possível que as empresas consigam captar recursos por meio de investidores, estimulando a economia pela valorização empresarial e pelo aumento do nível de investimento no curto prazo. O efeito no médio prazo é um aumento de produto, pois como ressaltado no começo do texto, a melhoria ocorre primeiro pelo setor financeiro e, posteriormente no setor real da economia.

Idealmente, neste cenário, o governo de um país que vive uma situação positiva poderia pensar em reduzir suas taxas de juros, o que impactaria diretamente e de forma positiva na dívida pública e na economia real, fazendo com que não apenas o investimento das empresas aumentasse, mas o consumo das famílias. A perspectiva para a situação fiscal em uma situação como essa é favorável, pois se o governo possui um título mais crível, ele não precisa pagar uma rentabilidade tão elevada, o que faz com que o endividamento do país se reduza ao longo do tempo.

A grande questão subjacente levantada ao longo do texto é a assimetria de informação entre os agentes participantes desta transação, seja o governo, os atores do mercado financeiro ou mesmo a sociedade. Neste caso, para tentar minimizar o problema de informação existente e seus custos (sejam eles sociais ou econômicos), é interessante que o governo tente antecipar as flutuações econômicas, adaptando suas políticas (cíclicas ou anti-cíclicas) para atingir um resultado mais eficiente. Desta forma, o governo poderá fortalecer os fundamentos econômicos do país e evitar maiores custos para a sociedade. Caso o governo não atue desta forma, e ocorra, por exemplo, um aumento da dívida pública por meio de maiores taxa de juros ou por uma política fiscal mais displicente, isso levará o país a indicadores econômicos mais frágeis e um rating pior, gerando um prêmio maior a ser pago pelos seus títulos, com aumento do endividamento levando o país a um equilíbrio perverso.

Notas:

[1] Para saber mais: Mendonça, M., Medrano, L., & Sachsida, A. (2010). Efeitos da Política Monetária na Economia Brasileira: Resultados de um Procedimento de Identificação Agnóstica. Pesquisa e Planejamento Econômico, 40(3):367-394.

[2] S&P, Fitch ou Moody’s

[3] Para este estudo, a análise não considera fatores políticos, econômicos e outros de ordem mais específica de cada um dos países nesta análise.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais