O que esperar da VIII Cúpula das Américas?

Rafael Martins da Silva e Marcelo Micalli Corrêa de Oliveira Santos

 

Nos dias 13 e 14 de abril, Lima será palco da VIII Cúpula das Américas, evento o qual os chefes de Estado dos países da América do Norte, América Central e América do Sul se encontrarão para discutir pautas variadas, sendo essas: economia, segurança, governança, corrupção, desenvolvimento sustentável e parcerias público-privado, buscando maior integração regional com o intuito de tornar a região mais competitiva se comparada à outras regiões com um maior nível de integração, caso da Europa [1]. Mas é possível dizer que o foco central será na questão da corrupção que vem se alastrando no continente.

As expectativas para essa reunião são altas, visto que esta seria a primeira reunião com a participação do líder americano Donald Trump, que durante o seu primeiro ano de mandato demonstrou ser cético perante temas que promovam a integração regional. Um dos principais exemplos é a discussão de uma possível renegociação do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), acordo que foi colocado em prática em 1994 durante o mandato de Bill Clinton igualmente à Cúpula das Américas.

Vale ressaltar que a década de 90 foi um marco para o progresso das pautas referentes à integração regional e a Cúpula das Américas é uma consequência direta dessa mudança no sistema. Para essa Cúpula, é necessário se atentar à algumas informações prévias que diminuíram a expectativa sobre os possíveis resultados do encontro com relação à resolução de problemas e aumento da integração entre os atores envolvidos.

Como principal “desfalque” do encontro, Donald Trump não comparecerá ao encontro mas enviará o vice-presidente, Mike Pence, para representá-lo. Isso significa que o governo norte-americano entende esta Cúpula como menos relevante e não se importa em ser o único país do encontro a não mandar representantes a nível presidencial e possíveis consequências que isso pode gerar [2]. A ausência de Trump foi justificada, em um primeiro momento, para realizar o monitoramento dos últimos desdobramentos do conflito sírio e gerenciamento da mais recente crise doméstica, além da recente ameaça feita por Trump de enviar mísseis à Síria em provocação à Rússia [3].

Uma consequência do menosprezo de Trump com relação a Cúpula é a confirmação da não participação da Venezuela, uma vez que o único pretexto para Nicolás Maduro comparecer seria o encontro direto com Donald Trump [4]. Com a ausência do representante venezuelano, espera-se que alguns discursos dos demais presidentes presentes sejam direcionados a melhoria da situação da crise humanitária que o país se encontra, já que Maduro não estará presente para defender seus ideais. O interesse na Venezuela gira em torno da relação entre a situação de instabilidade doméstica em que o país se encontra e sua abundância em petróleo, visto que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) têm reduzido sua produção diária e sofrendo impacto direto da crise venezuelana.

Com o vice Mike Pence assumindo o posto de representante dos EUA na Cúpula, o foco da pauta norte americana envolverá mais do que corrupção, tema que desestabilizou alguns dos países participantes do encontro nos últimos meses como Brasil, Equador, Chile e o próprio Peru, país sede. O discurso de Pence deve tentar gerar aproximação com os países da América Latina, principalmente para reverter a imagem transmitida por Trump.

Com a tentativa de proximidade partindo dos Estados Unidos, é previsto que os países tenham um discurso mais voltado aos seus problemas internos, tais como corrupção e crises nacionais. Embora alguns estadistas tentarão se esquivar de explicar suas crises, surge a possibilidade dos menos privilegiados aproveitarem a visibilidade dentro da Cúpula e a presença dos Estados Unidos, mesmo que com seu vice-presidente, para sugerir pautas a fim de solucionar suas questões. O fato de países importantes como Brasil, México e Argentina estarem preocupados com pautas domésticas implica na ausência de um plano elaborado por parte desses países, o que consequentemente torna a Cúpula mais frágil.

O fracasso esperado do evento evidencia que as questões internas impactam diretamente a integração entre os atores internacionais. Isso mostra que a clássica imagem das “bolas de bilhar” das Relações Internacionais para descrever a integração entre os Estados não explica a influência das questões domésticas nas relações internacionais. Sendo assim, a conclusão do evento poderá contribuir para a visão de que o diálogo entre os Estados sobre questões econômicas, de segurança e governança, não progride consideravelmente quando estes se concentram em solucionar crises internas. Logo, as expectativas para a VIII Cúpula das Américas são de resoluções generalistas e pouco eficientes, desperdiçando uma das poucas oportunidades dos Estados participantes de fortalecer a integração regional entre a América do Norte, América Central e América do Sul.  

 

[1] SUMMIT OF THE AMERICAS. Secretariat. OAS. Disponível em: http://www.summit-americas.org/default_en.htm Último acesso em: 12/04/2018. 

[2] THE WASHINGTON POST. Trump to skip south america summit, will send Pence. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/world/national-security/trump-to-skip-south-america-summit-will-send-pence/2018/04/10/c172dad2-3d33-11e8-955b-7d2e19b79966_story.html?noredirect=on&utm_term=.32a4bdf88848 Último acesso em: 12/04/2018.

[3] EL PAÍS. Trump coloca o prazo de 24 horas para decidir se ataca a Síria. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/09/internacional/1523292948_799013.html Último acesso em: 12/04/2018.

[4] AL JAZEERA. Nicolas Maduro vows to attend Summit of the Americas. 2018. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2018/02/nicolas-maduro-vows-attend-summit-americas-180215204712486.html Último acesso em: 12/04/2018.

[5] OAS. Cúpulas das Américas. Disponível em: http://www.oas.org/pt/topicos/cupulas.asp Último acesso em: 12/04/2018.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais