Os últimos três anos tem sido de otimismo e euforia para a economia global, com um cenário de crescimento econômico elevado e sustentado em várias partes do mundo. Diante deste quadro de crescimento e com elevação da liquidez global, os países e empresas tentam se aproveitar deste momento e tomam o crédito de forma barata e abundante.
Esta preocupação foi relatada no relatório The Global Risks Report 2018 do World Economic Forum lançado em Janeiro de 2018, que destacou a liquidez abundante e a valorização excessiva do mercado financeiro como as principais fatores que aumentam o risco econômico.
O setor privado e o setor público sofrem as consequências deste movimento. O primeiro está relacionado com um aumento do preço das commodities e dos ativos, o que é explicado pela elevada quantidade de crédito em circulação. Já no setor público, que possui relação direta com o setor real da economia (por meio de gastos e tributação), é a ampliação do grau de endividamento das economias emergentes nos últimos meses, tal como demonstrado pelo gráfico abaixo.
Gráfico 1 – Endividamento por Grupo de Países – % do PIB
Fonte: FMI – Elaboração Própria
Gráfico 2 – Endividamento para Países Selecionados – % do PI
Fonte: FMI – Elaboração Própria
Neste gráfico destacam-se países latino-americanos que aproveitaram a excessiva liquidez global para tomar endividamentos em proporções crescentes. Até o final do ano de 2017, tudo parecia caminhar para um cenário positivo, porém as coisas começaram a se inverter quando os Estados Unidos começaram a alterar sua política monetária. Esta alteração fez com que a política monetária se tornasse mais apertada, pelo fato da economia norte-americana apresentar um crescimento acelerado que, conjugado com o aumento dos preços do barril de petróleo, poderia ocasionar um crescimento dos índices de preços. Tal fato já fez com que ocorresse um ajuste para baixo nos preços dos ativos financeiros e de commodities no mercado mundial, o que pode prejudicar os países emergentes, que possuem maior exposição à volatilidade financeira e maior participação nas exportações de commodities.
Diante deste cenário, e com o crescimento das taxas de juros norte-americana, os países emergentes (e no caso deste exemplo, Brasil e Argentina) estão sofrendo com uma forte saída de capitais, que está impactando diretamente na desvalorização da moeda. A perspectiva para estes países é de um aumento de taxa de juros, como já ocorreu no caso argentino e é sinalizada pela taxa de juros futura no Brasil, como forma de estancar a perda de valor da moeda e reequilibrar as contas externas.
Este movimento é importante, porém sinaliza para o mercado financeiro e para os principais credores que o momento não é dos melhores para o país que emite o título público. O aumento da taxa de juros faz com que o título público seja mais rentável para quem o detém, porém, ao mesmo tempo, gera um aumento da percepção de risco para os credores, pois se torna cada vez mais difícil para o país emissor pagar o que está tomando emprestado a taxas mais elevadas. A Argentina já passou por uma prova de fogo recentemente, com a rolagem de uma parte da dívida em meio a esta crise. Porém, nada assegura que o Brasil e a Argentina não irão enfrentar este problema de forma recorrente, caso esta situação de instabilidade no mercado financeiro e de aumento de taxas de juros no cenário externo se mantenha.