Eleições mexicanas e os impactos no ambiente de negócios

As eleições presidenciais mexicanas irão ocorrer no próximo domingo (01/07). Hoje, o governo mexicano é liderado por Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI) e não pode concorrer à reeleição. Os eleitores também irão escolher membros para o Senado e Câmara dos Deputados. A disputa para presidente está centrada entre o candidato populista Andres Manuel Lopez Obrador do Movimento de Regeneração Nacional (MORENA), agora favorito e oriundo da antiga esquerda e oposição mexicana, contra o direitista Ricardo Anaya do Partido da Ação Nacional (PAN) e o centro esquerdista José Antonio Meade do PRI. A situação do país em termos de instabilidade de segurança pública é alarmante, e tem afetado o jogo político diretamente principalmente pela proximidade eleitoral. Além das animosidades de Trump contra o NAFTA e o país que tem afetado as grandes corporações, como Pepsi, GM e a Ford.  Desta forma, este texto pretende abordar a questão da atratividade mexicana para os negócios ao discutir os principais desafios da eleição e como ela terá impacto nesta agenda.

A pesquisa GEA/ISA, publicada na última segunda-feira (25/06), indicou que Obrador lidera com 35% das intenções de votos, seguido por Anaya, com 23% e Meade, com 21%. Quando comparado esta pesquisa com a anterior, nota-se que as intenções de voto de Obrador caíram 2 pontos percentuais, enquanto para Anaya não houve mudança e para Meade subiram 4 pontos percentuais[1]. Obrador promete preservar as relações bilaterais com os EUA, mas fala em diversificação ao buscar desenvolver relações e parcerias com outros países. Ele defende políticas anticorrupção, revisão de contratos petrolíferos com os EUA e possui uma retórica anti-estadunidense, o que o torn altamente popular. Mas, segundo relatório da Eurasia[2], não é tão radical como vem sendo retratado pelos seus opositores e representa uma mudança na política pró-investidores, principalmente, para o setor energético. Anaya busca a manutenção de um relacionamento positivo com os EUA, uma vez que se preocupa com o alto volume de exportação desta agenda bilateral – cerca de 80% de todas as exportações mexicanas tem como destino o vizinho ao norte. Enquanto Meade é a esperança de repaginação do partido de Peña Nieto, que tenta se recuperar dos escândalos de corrupção e faz coalizão com Anaya. Assim, o resultado desta eleição trará impactos diretos para as políticas comerciais e agenda de negócios.

A pesquisa eleitoral indica falta de representatividade da população mexicana como um todo, e podemos atrelar outros problemas para as eleições como o episódio do roubo de 11.000 cédulas eleitorais mexicanas apenas 5 dias antes das eleições, que ocorreu durante um assalto armado no estado de Tabasco[3]. O roubo das cédulas, somado com o número preocupante de políticos, candidatos e pré-candidatos assassinados – estima-se que 110 nos últimos 10 meses – indica que a situação do país em termos de instabilidade de segurança pública é alarmante e gera impacto tanto no ambiente político quanto no econômico. Os casos de violência e assassinatos fez com que muitos políticos renunciassem seus cargos e diversos candidatos desistissem de suas candidaturas. Quanto aos que permaneceram na disputa, cerca de 49 requisitaram pedidos de escolta ao governo e reconheceram que suas campanhas eleitorais serão caracterizadas pelo medo de que algo aconteça[4]. Além da questão da violência, também é necessário atentar à transparência do processo eleitoral uma vez que as cédulas foram roubadas e podem facilmente ser utilizadas no domingo como forma de induzir um resultado desejado pelos cartéis que efetuaram o roubo.

O México se encontra na posição 44 do Índice de Risco para Negócios Internacionais (ESPM-IRNI) e podemos ver no gráfico abaixo que obteve melhora constante em seu índice de 2013 (48) para 2017. Isto ocorre devido, principalmente, a melhora nos dados econômicos, a inflação, por exemplo, foi de 3.8 em 2013 para 2.8 em 2017 e o desemprego também teve redução moderada de 4.9 para 4.3. Ao comparáramos com os demais países da América Latina, também é possível notar que seu desempenho é favorável. Vale notar que temos uma das piores performances do Índice representados na região – a Venezuela, que passa por uma crise socioeconômica e política. O ESPM-IRNI conta com informações de escopo político, macroeconômicas, segurança, regulatórias e ambientais de 47 países. Ao comparar a complexa situação de cada país através de um amplo conjunto de variáveis, apresenta sua atratividade em termos de ambiente de negócio. Quanto menor o número em nossa escala (0-100), mais atrativo é o país para negócios pois mostra maior estabilidade na política, economia e segurança.

ÍNDICE DE RISCO PARA OS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA 

Fonte: RAIA-ESPM, 2017. O score varia de 0 a 100, sendo quanto maior o score, maior o risco para os negócios.

 

Quando tratamos dos riscos para o ambiente de negócios a partir do resultado da eleição, nota-se que grandes empresários têm acreditado e se preparado para uma vitória de Obrador. A partir disto, muitos enviaram notas oficiais a seus empregados, fazendo críticas as políticas econômicas do candidato e afirmando que, dependendo de qual caráter seu futuro presidente assumir, o México pode regredir significativamente no âmbito econômico. Parte dos discursos de Obrador incluem o recuo de exportações de petróleo mexicano, como mencionado anteriormente, que demonstra divergência de interesses entre o político e muitas das empresas nacionais do setor. Apesar do receio dos empreendedores mexicanos e do histórico de ativismo político do candidato contra a Pemex (companhia petrolífera nacional), existe ainda aqueles que acreditam que Obrador não deve alterar de forma drástica as políticas econômicas do país, gerando então dúvida para qual realmente será o desdobramento da economia mexicana com a nova gestão. Outro indício de que não se devem ocorrer grandes alterações na pauta em questão é a intenção de fortalecer as alianças econômicas com os Estados Unidos. Esse interesse, identificado no discurso de Hector Vasconcelos, possível Ministro de Relações Exteriores se Obrador for eleito, demonstra novamente que confrontar os norte-americanos não faz parte de seu plano de governo[5].

Desde a semana passada, o peso mexicano tem tido uma ótima performance elevando 2.8%. Isto ocorre, pois, exportadores confiam que Obrador irá vencer a eleição e começam a retrair suas posições. Banqueiros afirmam que ainda devemos ver novas incertezas políticas após as eleições, mas ainda haverá tempo até a posse em 1º de dezembro e então existe espaço para o peso se fortalecer no curto prazo. E Jesus Seade Kuri, o homem que Obrador escolheu para as negociações do NAFTA, caso ganhe, espera fechar acordo com EUA e Canadá nos próximos meses e em acordo com as posições que veem sendo tomadas pelo Ministro da Economia Guajardo[6]. Trazendo assim estabilidade econômica e atratividade para o país.

Notas:

[1] EXAME. Diminui vantagem do candidato de esquerda nas eleições do México. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/mundo/diminui-vantagem-do-candidato-de-esquerda-nas-eleicoes-do-mexico/ Último acesso em: 28/06/2018.

[2] EURASIA. Top Risks 2018 Report. 2018. Disponível em: https://www.eurasiagroup.net/files/upload/Top_Risks_2018_Report.pdf.  Último acesso em: 27/06/2018.

[3] O GLOBO. Mais de 11 mil cédulas são roubadas dias antes das eleições do México. https://oglobo.globo.com/mundo/mais-de-11-mil-cedulas-sao-roubadas-dias-antes-de-eleicoes-no-mexico-22822628 Último acesso em: 28/06/2018.

[4] EXAME. Ser candidato no México é quase uma sentença de morte. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/mundo/ser-candidato-no-mexico-e-quase-uma-sentenca-de-morte/ Último acesso em: 28/06/2018.

[5] GAZETA DO POVO. O future president do México pode ser um enigma. 2018. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/o-futuro-presidente-do-mexico-pode-ser-um-enigma-1w8mu9pketkz9h5qvid0iz6ja Último acesso em: 28/06/2018.

[6] BLOOMBERG. Mexican Election Coverage. 2018. Disponível em: https://www.bloomberg.com/graphics/2018-mexican-election/ Último acesso em: 27/06/2018.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais