Desemprego Tecnológico, Não na Polônia

Estamos vivendo a quarta revolução industrial, e a velocidade com que as inovações tecnológicas transformam nossa economia é algo sem precedentes. Essas transformações impactam, por consequência, o mercado de trabalho. É crescente a preocupação com o desemprego causado pela substituição de mão de obra humana por processos automatizados. A esse fenômeno damos o nome de desemprego tecnológico.

O desemprego tecnológico não é um fenômeno novo. Já na primeira revolução industrial muitos trabalhadores perderam seu posto de trabalho para máquinas a vapor, que faziam o mesmo trabalho de maneira muito mais eficiente. Houve até mesmo uma revolta contra o uso das máquinas na indústria, conhecido como ludismo, que promovia a destruição daquelas. Menos virulentos, mas perenes, são medidas governamentais para salvaguardar empregos que se tornaram comparativamente mais custosos e mesmo indústrias inteiras em vias de extinção. Vemos essas medidas na forma de subsídios e barreiras protecionistas.

O problema de lutarmos contra o desenvolvimento tecnológico é que corremos o risco perdermos competitividade. As duas únicas possibilidades de equilíbrio nessa dinâmica são uma coalizão ludista global ou a incorporação universal das tecnologias que transformam o mercado de trabalho. Como uma coalizão global é absolutamente impossível, é melhor nos adaptarmos da melhor maneira possível e nos prepararmos para os efeitos que a incorporação dessas tecnologias trarão.

Há uma variedade de efeitos trazidos pela automação, muitos deles bons, mas alguns ruins. Como boas consequências, temos, por exemplo, o uso mais sustentável de recursos naturais e o barateamento de bens e serviços. Mas há também o desemprego. É verdade que no longo prazo geralmente temos o crescimento da indústria afetada pela inovação, a invenção de novas indústrias inteiras, e o consequente aumento na oferta de empregos. Idealmente, os trabalhadores que perdem seus postos de trabalho poderiam ser readmitidos na mesma indústria, num posto mais qualificado, ou mesmo numa nova indústria advinda da transformação. Ocorre que essa reabsorção não é imediata; na verdade, ela pode nem acontecer numa mesma geração.

Essa diferença entre a disrupção e a reabsorção da mão de obra é um problema grave, tanto para as pessoas que ficam desempregadas quanto para a sociedade tomada no agregado. Além do drama pessoal e familiar do desemprego, um grande número de desempregados impõe custos ao estado de bem estar social, pode gerar violência e até mesmo dilemas éticos relativos ao papel do trabalho na vida das pessoas.

O desemprego tecnológico, diferentemente de um desemprego causado por uma recessão, tende a só se resolver quando o trabalhador se qualifica para um posto de trabalho para o qual não tinha treinamento anteriormente. Num cenário intermediário entre o desemprego tecnológico e o emprego tecnológico, o trabalhador consegue um emprego de menor remuneração. Essa necessidade de treinamento causa, ou pelo menos deveria causar, grande preocupação em países com grande parcela da população empregada em processos que podem ser rapidamente automatizados.

A situação é ainda mais grave se considerarmos que os novos trabalhos exigem atualização constante do trabalhador, fazendo com não baste mais o conhecimento de uma técnica ou conjunto de técnicas para se garantir no posto. A inteligência fluida se sobrepõe cada vez mais à inteligência cristalizada. O trabalhador precisará, cedo ou tarde, a aprender a aprender; e a fazer isso por conta própria. Note que já se fala que os programadores de computador serão os novos trabalhadores braçais.

E o que a Polônia tem a ver com tudo isso. Bem, a Polônia parece não correr grande risco de sofrer com o desemprego tecnológico, por uma série de razões. Em primeiro lugar, a população da Polônia, estimada em 38 milhões de habitantes, vem declinando desde 2007, devido à baixa taxa de fecundidade – 1,32 nascimentos por mulher, segundo dados do Banco Mundial[1] – e à emigração – que é maior que a imigração -, segundo dados do governo polonês[2]. Segundo estimativas oficiais, a população da Polônia deve diminuir para menos de 34 milhões de habitantes em 2050. Esse fator estrutural, bastante problemático em outros importantes aspectos, aliviaria os impactos de um possível desemprego tecnológico.

                                                                                                     Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados oficiais do Governo da Polônia

 

Mas há outros fatores importantes a serem considerados. Primeiramente, a Polônia tem uma alfabetização praticamente universal de sua população. Desde a década de 1980, mais de 99% da população acima de 15 anos sabe ler e escrever, e isso ajuda na hora de se treinar alguém para algum emprego.

                                                                                                     Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados  Knoema. 

 

Outro ponto importante nessa análise é o fato de o principal componente da pauta de exportações da Polônia ser justamente maquinários industriais. Isso sugere que a Polônia se beneficia, na verdade, com processos de automação no mundo. Mas mesmo o setor de maquinários industriais está passando por modificações tecnológicas importantes. Mais do que simplesmente automação, os novos maquinários são cada vez mais robotizados, mais móveis, multifuncionais e fazendo uso de inteligência artificial e geolocalização precisa. Esses novos adventos, que tornam as próprias máquinas usuárias de internet, é conhecido como internet das coisas”; desde 2008, já há mais máquinas do que humanos fazendo uso da internet[3]. Assim, basta que a Polônia esteja atenta a essas mudanças para que o risco de sofrer com o desemprego tecnológico seja bastante pequeno.

E é isso o que ocorre, a Polônia é um ambiente propício para o surgimento de startups de tecnologia. Mais do que isso, o país vem presenciando o sucesso de empresas como a estimote e a kontakt.io, que atuam justamente na área de robotização de processos de logística, não apenas conectando as máquinas, mas fazendo uso até mesmo dos aparelhos celulares dos próprios consumidores, permitindo diversas novas possibilidades de desenhos de processos.

                                                                                                                   Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados de Tucker (2014)

Assim, parece ser pequeno o risco da Polônia sofrer com o desemprego tecnológico, isso devido à uma combinação de razões demográficas e econômicas. O que há na Polônia, na verdade, é uma necessidade de mão de obra qualificada. Não que o país não tenha essa mão de obra, mas não a tem em quantidade suficiente para explorar o mercado de internet das coisas; um mercado cujo tamanho é estimado entre 500 bilhões – segundo a General Electric – e dois trilhões de dólares  – segundo a Cisco – atualmente, e com estimativas de um crescimento para inimagináveis 19 trilhões de dólares em dez anos.

 

 Notas:

[1] https://data.worldbank.org/indicator/SM.POP.NETM

[2] http://stat.gov.pl/en/topics/population/population-projection/population-projection-2014-2050,2,5.html

[3] Tucker, Patrick. 2014. The Naked Future: What Happens in a World That Anticipates Your Every Move? Penguin Group. New York.

Beatriz Amaral

Beatriz Amaral Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Luísa Lotto

Luísa Lotto Analista Júnior Bacharelanda em Relações Internacionais

Caio Nielsen

Caio Nielsen Analista Júnior Bacharelando em Relações Internacionais